terça-feira, fevereiro 28, 2006

Carnaval...? Quê...?


Estamos no Carnaval não é? Vocês sabem bem que eu não sou gaja de curtir o Carnaval mas há certas coisas que acho bastante piada...
Nestes dias tive tempo de vasculhar nos velhos baús e encontrei uma tradição antiga dos tempos dos pais ou dos avós (já não sei bem) que, ao que me parece, está perdida: as cartas de Carnaval... Totalmente desprovidas de coerência e racionalidade mas o que interessa nesta altura é libertarmo-nos de nós próprios não é?

Aqui vos transcrevo uma dessas cartas... Divertam-se a ler e curtam o resto do dia de Carnaval que amanhã é outro dia... (infelizmente... já sabem porquê...)

228/002/19773

Saudoso amor:

Começo por te desejar que fiques assim assim que eu fico assado.
Minha querida de cravo ao lado, é natural que não me conheças mas para que fiques sabendo quem eu sou vou-te explicar.
Sou um rapaz que é sem dúvida um dos melhores do mundo e garanto-to que não há rapariga alguma a que se possa comparar.
Todos gostam de um físico e do grande pândego que eu sou, além disso sou filho do meu pai e da minha mãe, pessoas muitos conhecidas por mim lá em casa, sou também neto da minha avó que, quando morreu deixou num testamento dois pares de tamancos para usar descalço contigo na cama.
Eu sou muito bonito e por isso considero-me um rapaz que nada rejeito e se me ajudares em minhas razões e minhas tradições ainda hei-de ser milionário oito meses na Primavera, além disso cinco pares já cá cantam.
Podes crer querida que te amo como o porco ama a faca e o cão ama a gata. Querida desejo-te muita saúde e poucas horas de vida que Deus não pode dar tudo.
Não fazes uma pequena ideia de quanto padeço por tua culpa, desta paixão assolapada que me dá cabo da mioleira e por isso deito-me e levanto-me contigo na cama, tu na tua e eu na minha – Que remédio!... amor dos outros descansa que depois de eu morrer nunca mais me sairás do pensamento. Minha boa que nunca o foste, és a perdição dos meus olhos e a cegueira dos meus calcanhares, és uma rapariga cujos encontros se podem comparar a uma fábrica de fazer tijolos, cá da minha parte vou para comer mas depois de pensar bem, fico sem apetite, passo as noites todas a dormir, é um martírio, a noite que passei melhor foi a de sábado para quinta-feira.
Querida, furo-te pelas penas de galinha que comi ontem à noite que te amo, como aqueles que não têm amor nenhum.
Mais uma vez te peço pela alma da minha gatinha que me respondas o mais lentamente possível, porque eu estes dias estou à espera da tua carta que leva pelo menos sessenta e cinco dias em cada mês.
Assim querida, podes ver a minha paixão por ti, já pensei sete vezes e meia em me meter debaixo do comboio mas ainda não o fiz com medo que ele volta para a retaguarda da frente, e a morte é tão negra, além disso o meu coração está gelado por não ver o fundo do prato de batatas fritas que estou comendo, como sempre o meu coração gela como arroz na panela, minha querida tenho-te tanto amor que não sei onde to meta. E com isto vou terminar, tenho os olhos rasos de lágrimas por não te poder ir acompanhar ao cemitério. Agora juro-te por todos os que não sabem amar, que nem mais me sais do pensamento, estou quase a dar em maluco, com muito juízo por tua culpa, tenho-te tanto amor que sou capaz de comer-te aos beijos só para me ver livre de ti.
Com isto passo a terminar que já é quase meia noite para as duas.
Termino desejando-te muitas horas de morta meu nunca esquecido amor.

Quinta da Felicidade, Rua dos Desterro – Portugal.

1 Comments:

Blogger Guilherme Cortes said...

A carta ta muito fixe mesmo...parti-me a rir com isto.....lololololol Pó ano recebes uma minha...lololololo

quarta-feira, março 01, 2006 4:07:00 da tarde  

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